O óleo de palma está mais presente na vida do brasileiro do que é possível imaginar. Ele faz parte de cerca de 50% dos produtos consu¬midos no país, como alimentos, cosméti¬cos, biocombustível e até na geração de energia elétrica. Por trás dessa presença tão marcante e versátil, há uma grande indústria composta por diversas empresas Brasil afora, muitas delas aqui no Pará.

É daqui que sai a maior parte da produção nacional. O estado é responsável por 85% de todo o óleo de palma consumido no Brasil, de acordo com dados do Sindicato das Indústrias de Óleos e Azeites Alimentícios do Pará (Sinolpa). O setor gera cerca de 20 mil empregos dire¬tos no Estado – mil deles foram criados só no primeiro semestre de 2023. Além disso, aproximadamente R$ 3 bilhões são pagos em salários e benefícios ao ano. Só para se ter uma ideia dos impactos desses números na economia do Pará, em alguns municípios, a indústria do óleo de palma contribui com cerca de 25% do circulante financeiro total.

“A atividade está protegida por um robusto arcabouço legal que busca garantir condições adequadas de traba¬lho e dignidade. É um segmento que evita o êxodo rural e incrementa o PIB de diversos municípios amazônicos”, enumera a presidente do Sinolpa, Marcella Araújo. Segundo o Sinolpa, a estimativa é que a produção nacional chegue a 555.148 toneladas de óleo ao ano e a quase 5,7 milhões de toneladas de cachos de fruto fresco – sendo a quarta maior do mundo.

ORIGEM E APLICAÇÃO

O óleo vegetal mais comercializado e consumido no mundo vem de uma espécie conhecida como palma de óleo ou dendezeiro – uma palmeira que pode chegar a 15 metros de altura. Originária da região oeste da África, a palma se adaptou muito bem ao solo e ao clima da Amazônia brasileira e apresenta, pelo menos, dois gran¬des diferenciais. O primeiro é justamente o alto rendi¬mento do óleo, que pode ultrapassar em até dez vezes o obtido por tonelada com a soja. O outro é que a planta possui um longo ciclo produtivo, que pode chegar a trinta anos.

Esse óleo serve de matéria-prima para diversas indústrias que utilizam a gordura vegetal como ingre¬diente. Por manter suas propriedades em diferentes temperaturas, o óleo é utilizado para dar uma textura mais macia a margarinas, sorvetes, pães e recheios de biscoitos, por exemplo. Em alguns casos, pode subs¬tituir a manteiga de cacau em chocolates ou ser utili¬zado em frituras e molhos. Pratos típicos brasileiros, como o vatapá e o acarajé, possuem o azeite de dendê como ingrediente.

A indústria cosmética também utiliza os derivados da palma. O óleo hidrata, ajuda na formação de espu¬mas e no amolecimento de outros compostos, dando uma textura mais suave aos produtos, sem influenciar no cheiro. Maquiagem, creme dental, sabão e detergente também são aplicações possíveis do óleo de palma.

Por fim, o produto também é insumo para o biodie¬sel, um combustível alternativo ao óleo diesel de origem fóssil, que pode ser utilizado para geração de energia elétrica e em veículos, reduzindo as emissões de gases do efeito estufa. Com tantas aplicações, estima-se que cada pessoa consuma cerca de oito quilos do produto ao ano.

DESTINO DA PALMA PARAENSE
  • 80% Alimentos
  • 10% Cosméticos
  • 10% Outros
  • IMPORTANTE ALIADO PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

    A palma de óleo ou dendezeiro, planta de origem afri¬cana, tem se mostrado uma alternativa viável para ajudar na implantação de medidas contra as mudanças climá-ticas. De acordo com o Sinolpa, há estudos que indicam que a palma de óleo possui um dos menores impactos em relação à mudança do uso da terra no país, pois, para garantir a produção, não há a necessidade de desmatar nenhum hectare de floresta nativa, bastando aproveitar as áreas que já tiveram outras atividades econômicas.

    A legislação brasileira para o cultivo de palma é considerada uma das mais rigorosas do mundo. A produ¬ção dessa cultura é gerida pelo Zoneamento Agroeco¬lógico da Palma de Óleo, de acordo com definições do Governo Federal e que está no Decreto 7.172 de maio de 2010. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu um estudo e definiu quais são as áreas aptas ao cultivo sustentável da palma de óleo na região amazônica.

    “É importante frisar que uma fazenda não é só composta por plantação. Todas as empresas precisam ter pelo menos 50% de área de preservação, a chamada reserva legal. E aí, todos os anos temos que compro¬var a preservação dessa reserva, que inclusive é moni¬torada por satélite. Só assim conseguimos liberar docu¬mentos como licenças e cadastros rurais. A cultura da palma apresenta consideráveis benefícios econômi¬cos e ambientais, especialmente no Pará”, acrescenta Marcella Araújo.

    O LADO SOCIAL DA PALMA

    O cultivo e o beneficiamento da palma têm contribuído para melhorar a qualidade de vida das comunidades, em diversos municípios do Estado, gerando emprego, renda, qualificação profissional e oportunidades ao longo de toda a cadeia produtiva.

    Em pouco mais de um ano trabalhando na Agropalma como operadora de produção, Maria Barbosa da Costa, de 42 anos, já está conquistando alguns objetivos, como fazer pós-graduação e tirar a carteira de motorista. Moradora da Vila Olho d’Água, na PA-150, no município de Moju, ficou sabendo da vaga por meio de uma amiga. “Eu estava procurando emprego, então surgiu essa oportunidade na safra e aí fui chamada para fazer a entrevista e estou lá até hoje”, revela. Formada como pedagoga e técnica em agropecuária, Maria já traçou seu plano de carreira. “Minha expectativa é continuar na empresa e crescer dentro dela”, projeta.

    Já a família de Leona Stefanes, de 44 anos, mora na vicinal Vila Israel. Nascida em Paragominas, mudou-se para Moju com a família há mais de 20 anos, e mantém um cultivo de palma no projeto Calmaria 2 junto com o marido, Daniel Stefanes. No local, há vários produtores de palma que receberam insumos e capacitação técnica de indústrias para iniciar sua produção. “No começo de tudo, para quem não tem recursos para comprar as mudas por conta própria, esse tipo de parceria é muito importante, essencial, especialmente para o produtor que está iniciando, porque possui a terra, mas não tem condições de fazer o preparo da área”, ressalta Leona. Segundo ela, uma das indústrias prestou orientações também sobre obtenção de financiamento. Outro ponto importante é que os agricultores familiares têm clientes garantidos, uma vez que várias empresas do setor compram toda a produção.

    PRODUÇÃO DO PARÁ EM NÚMEROS
  • 85% da produção nacional
  • 29 municípios paraenses fazem parte da cadeia produtiva
  • 535 mil hectares de área total (incluindo plantio, infraestrutura e reservas ambientais)
  • 255 mil hectares apenas de plantio
  • PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES
  • 19% – Tomé-Açu
  • 18% – Tailândia
  • 17% – Moju
  • 15% – Acará
  • 5% – Bonito
  • 4% – Igarapé-Açu
  • Last modified: 12/09/2024